Antes vistas como oportunidade exclusiva para as classes mais altas, as viagens de intercâmbio voltadas a experiências internacionais e ao aprendizado de outros idiomas chegou também à população brasileira de renda média. Além de oportunidades mais frequentes de viagens, o cenário mais positivo do câmbio e as facilidades do crédito também ajudam a atrair esse grupo para a modalidade.
Em pesquisa feita pela Associação Brasileira de Viagens Educacionais e Culturais (Belta, na sigla em inglês), 76% das empresas afirmaram que vêm atendendo a esse público nos últimos dois anos. Para algumas empresas, esse é um nicho já consolidado: segundo o levantamento, 10% das agências afirmaram que a classe C já representa metade de suas vendas.
Para a coordenadora regional da Belta no Paraná, Valquíria MacDowell, a entrada dessa população no mercado de intercâmbios começou há cerca de cinco anos e se intensificou nos últimos dois, em uma combinação de vários fatores. Entre eles, estaria a melhor condição de renda do brasileiro e também o amadurecimento da classe média, que percebe as novas oportunidades que estão a seu alcance.
“Antes, muitos pensavam que esse tipo de viagem era voltado apenas para os mais ricos. Acreditavam que o intercâmbio não pertencia às suas realidades. Mas isso foi mudando nos últimos anos: ao perceber que poderiam arcar com os custos, esses jovens começaram a planejar a viagem e seus investimentos”, diz Valquíria. Ela, que também é diretora da agência curitibana Improvement, estima que 25% de seus clientes pertencem à classe média.
Tiro curto
Dentro dessa população, o formato mais buscado é o de viagens de curta duração, voltadas ao aprendizado de idiomas. Segundo o diretor de marketing da agência STB, Samuel Lloyd, este modelo atende aos objetivos dos jovens de classe média, por ter um bom custo-benefício e oferecer um rápido aprendizado.
“Boa parte desses intercambistas são jovens. Eles entendem a importância que estudar fora do país pode trazer para a sua carreira, considerando o lado da experiência e também o avanço que se tem nos idiomas estrangeiros em curto prazo”, afirma Lloyd.
Melhorar o inglês em um programa de curta duração foi a possibilidade que chamou a atenção da estudante de Pedagogia Talita Kito. Em seu último ano de graduação, ela recebeu a proposta de fazer um curso de inglês em Londres. O alto custo do programa e o local das aulas, que não era o desejado, fizeram com que ela deixasse a viagem de lado; mas, entusiasmada com a ideia de estudar fora, ela foi atrás de outra oportunidade. E descobriu um intercâmbio com a cidade norte-americana de Seattle, onde estudou inglês por duas semanas e ficou na casa de uma família local. “A viagem foi ótima e ajudou muito na língua. Na escola, avancei muito na parte de gramática e em casa, consegui melhorar a pronúncia, nas conversas com a família”, conta Talita.
Programas mais longos são o próximo passo
Enquanto buscam se adequar ao aumento da participação dos jovens de classe média nos intercâmbios, as empresas do setor já desenham possíveis cenários para os próximos anos em seu mercado. Entre as possibilidades apontadas, estão a busca por programas ainda mais ligados à carreira e também a entrada em modalidades ainda dominadas por classes de maior poder aquisitivo.
De acordo com Samuel Lloyd, gerente de marketing do STB, há diferenças sensíveis entre os programas escolhidos pelas diferentes classes sociais. Enquanto a classe C é formada por jovens profissionais que pensam em se qualificar ao mercado de trabalho, os intercambistas das fatias mais ricas da população entram em programas mais cedo, ainda no ensino médio (high school).
Para Fabiana Fernandes, gerente de produtos da agência CI, em pouco tempo os alunos de classe média vão apostar em programas como os de high school. Mas ela acredita que o foco ainda será dado a programas como graduações e pós-graduações.
“Vemos dois movimentos. O primeiro é de intercambistas que já participaram de programas e agora querem fazer viagens mais longas, pensando em um passo maior em sua carreira. E o outro lado é das universidades de fora que começam a pensar no mercado brasileiro, oferecendo bolsas ou planos semelhantes a brasileiros”, diz Fabiana.
Empresas valorizam experiência no exterior
Programas de intercâmbio estudantil fazem parte do objetivo de muitos jovens em alcançar melhores posições profissionais. Essa aposta é baseada no aprimoramento do idioma e no conhecimento de outras culturas – pontos que são muito valorizados pelas empresas, diz Cristian Kim, diretor regional da consultoria Business Partners.
Segundo ele, a segunda língua é requisito exigido por boa parte do mercado, e a cultura geral é muito bem vista pelos recrutadores. Mas há outros benefícios à carreira proporcionados pela vivência internacional: “Boa parte dos intercambistas fortalecem muito a questão do contato com colegas e outros estudantes. Isso ajuda no desenvolvimento de um bom networking [rede de contatos] e também na habilidade de negociar, qualidades sempre bem avaliadas”, diz.
Por mais que cursos extensos tragam um volume maior de conteúdo, por muitas vezes cursos rápidos já podem dar destaque aos currículos, avalia Kim. “Quem vai contratar sabe avaliar as qualificações apresentadas e também leva em conta a disposição do candidato. Alguém que mostra interesse em ir estudar fora, escolhe bons programas e consegue ir para instituições de destaque já mostra que investe em sua educação, em sua carreira. Isso já agrega muito”, explica.
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